domingo, 3 de agosto de 2008

REUNIÃO DO MAX

Max é um velho amigo daqueles que a gente não esquece. Colega de aula desde o ensino fundamental que na época se chamava de primeiro grau. Acho que foi a partir da 5ª série, quando fui transferido para uma escola bem maior, uma das maiores aqui de Cachoeira do sul o Borges de Medeiros.
Era um daqueles lideres natos, não do tipo que se mete em política estudantil ou rebeldia pré-adolescente, mas um sujeito que tinha a habilidade de reunir todos ao seu redor, fosse para um time de futebol, ou qualquer esporte, fosse para organizar uma festinha da turma ou até mesmo na hora de reunir a galera para um trabalho em grupo da escola.
Sempre foi um cara esperto e, lembro que competíamos pelas melhores notas, melhores marcas no esporte, no futebol de botão ou com as gurias, o difícil era ganhar uma do cara. Era também do tipo bem articulado na comunidade e por todos esses requisitos despertava ódios e paixões entre guris e gurias.
Permanecemos unidos até o final do Segundo Grau na escola pública, hoje depauperado Ensino Médio. Na época a qualidade do ensino público já não era grande coisa, mas acompanhando o desenvolvimento da turma dá pra se dizer que todos cresceram e progrediram em suas vidas. Éramos todos de classe média-baixa, o que já era difícil de definir na época, na maioria filhos de funcionários públicos, comerciários, profissionais liberais, professores, mecânicos, caminhoneiros e outros trabalhadores sofridos. A turma crescia junto em todos os aspectos, desde o início já se percebia a esperança e também as perspectivas de progresso pessoal em cada um deles.
O Max, espero que tenha se dado bem na vida. Ouvi dizer que está nos Estados Unidos trabalhando e lembro que foi o único da turma que conseguiu estudar fora de Cachoeira, acho que se formou em Engenharia Química ou Industrial em Porto Alegre. Por sinal, muitos daquela turma conseguiram fazer um curso superior, outros passaram em concursos públicos, e todos que tenho o prazer de reencontrar estão com a vida ganha. Nada de espetacular, mas com certeza trabalhando, sobrevivendo e tocando a vida.
Quanto a mim, posso dizer que também sou vencedor. Casado, com quase quarenta anos, professor do ensino público estadual e municipal, Formado em Educação Física, Educação Artística (curso incompleto), Especialização em Informática Aplicada a Educação e Cursando Pós Graduação em Educação Especial. Mesmo sendo mais um professor mal remunerado trabalho com o que gosto, informática em uma escola e música em outra.
E é através da música que às vezes relembro este tempo muito especial que não volta mais. Quando reuníamos os colegas, quase todo final de semana para o que chamávamos de “Reunião Dançante”. A maioria das vezes organizadas pelo velho amigo Max. As festas normalmente aconteciam nas garagens ou em qualquer canto da casa onde os pais dos colegas permitissem ao grupo um pouco de privacidade. Quase sempre aos domingos à tarde ou sábado à tardinha quando ficávamos até um pouco mais tarde.
Éramos muitos e começamos bem cedo e na medida em que crescíamos e passávamos para a série seguinte á turma aumentava e surgiam novos parceiros e adeptos daquelas festinhas. Posso lembrar de quase todos: Leomar, Max, Biju, Gislaine, Rosimeri, Valquíria, Madelaine, Luis Amâncio, Mariton, Marlon, Júlio, Vilson, Valter, Leandro, Sérgio, Marivone, Elen Dóris, os penetras, primos, amigos dos amigos, e os irmãos mais velhos e mais novos que passavam a fazer parte daquela gostosa parceria.
Marcelo, meu irmão mais novo, é hoje um dos poucos com quem relembro estes inesquecíveis eventos de nossa adolescência. E é sempre através da música. Sempre que ouvimos uma daquelas baladas um de nós já fala: - Reunião do Max.
Daria para fazer uma daquelas listas das 100 melhores baladas das Reuniões do Max. Eram sucessos internacionais dos anos 80 e às vezes algumas mais antigas. Os velhos discos de vinil e a fita cassete eram presença garantida, principalmente aquelas coletâneas musicais, maiores sucessos, top isso, top aquilo, trilhas de novela quase que cem por cento internacionais.
Tinha também a iluminação especial, confeccionada artesanalmente com antecedência. Era feita de latas com lâmpadas comuns dentro e papel celofane colorido na abertura para dar aquele clima. Lembro de uma vez em que não deu para fazer algo tão elaborado e alguém improvisou pintando a lâmpada da garagem com tinta guache, tipo têmpera que ao aquecer ficou pingando em cima das cabeças até o fim da festa.
Por estranho que pareça, não me lembro de nenhum namoro muito sério que tenha surgido nas reuniões, talvez nós tenhamos sido os precursores do “ficar” que na época era muito menos intenso do que o que acontece com os adolescentes nas baladas de hoje. No fundo a turma se reunia mesmo para se divertir e curtir aquela amizade do tipo que não existe mais.
Também não me lembro de nenhuma briga séria e também de ninguém que tivesse passado do limite ou desrespeitado quem quer que fosse.
Não quero ser saudosista dizendo que a juventude da época sabia se divertir melhor que a de hoje, sem causar problemas e nem confusão com drogas, sexo irresponsável ou violência. Só quero mesmo é dividir estas lembranças que, com certeza, despertarão em quem lê um pouco de emoção e mais recordações.
É muito bom relembrar! É uma saudade gostosa, sem tristeza ou mágoa! Saudade...